O objetivo deste blog é divulgar e expandir os ensinamentos das tradições orientais, voltados especificamente para a prática da Ayurveda e da Yoga como caminhos de desenvolvimento pessoal e mudanças integrais.

Farei dele um singelo roteiro deste mundo, e espero que cada leitor que passar por aqui possa encontrar algo que ressoe em sua experiência.

Bem-vindos, Namastê!


domingo, 29 de agosto de 2010

A Constituição da Natureza e dos Corpos

A partir de agora podemos entender um pouco mais sob qual ótica a Ayurveda vê a natureza e seu funcionamento, começando por suas unidades mais básicas: os cinco elementos.



“Os elementos correspondem aos “reais”: terra, ar, fogo, água e espaço, mas também são abstratos. Se perguntássemos a um sábio ayurvédico o que os cinco elementos representam, ele não apontaria o vento, um tronco de madeira queimando ou um riacho. Os cinco elementos são um código de formas de inteligência compreendida pela inteligência do homem e o mundo que ele percebe por meio da mente.”

(CHOPRA, D. Saúde Perfeita, 1990)

Estes são os cinco elementos básicos universais que constituem quaisquer corpos que existam: espaço, ar, fogo, água e terra. Há uma cosmogênese que os explica, mas acredito ser aqui mais importante nos determos em suas influências em nossa experiência e na maneira como nos compõem em lugar de pensar sua origem.

As unidades elementares formam a divisão mais simples para nossa compreensão, mas se juntam também em combinações que tornam essa compreensão mais complexa em nosso modo de ser, as quais veremos assim que tivermos entendido cada um dos elementos 'separadamente' em seus propósitos.

Uma relação possível e relevante que podemos fazer é com os sentidos e seus respectivos órgãos: a cada sentido humano corresponde um elemento, e eles podem ser aumentados ou diminuidos conforme digerimos alimentos ou inclusive experiências que tem predominantemente um ou outro desses cinco. Se ficamos demasiadamente irritados, por exemplo, há predominância do elemento fogo, e nossa visão então se aguça nessa experiência devido à relação entre os dois. Examinaremos essa relação com mais cuidado quando virmos este elemento especificamente, mas, por hora, comecemos pelo mais sutil de todos, o espaço:

Ele é o primeiro dos elementos e é aquele que abarca todos os outros, dando lugar aos acontecimentos. De modo a compreender o universo integradamente, é preciso vê-lo como algo maior que a soma de suas partes, e o espaço é o entendimento capaz de nos dar essa noção: ele é invisível, impalpável e ao mesmo tempo, inegavelmente sentido por todos. Não há evento que se dê fora de um lugar, e é desse lugar primeiro onde toda experiência pode acontecer que aqui tratamos.

Ele é, igualmente, aquilo que permite que os objetos estejam separados e também o que os une, pois integra em uma mesma noção de lugar as diferentes partes que se diferenciam. Distanciados por matéria, os corpos estão juntos por espaço.

É a partir daí que temos tal elemento como responsável pelo sentido da audição, pois o som se propaga pelo espaço e se dá no ‘entre’ da relação dos corpos, sendo este o meio pelo qual podemos perceber algo auditivamente. Todo espaço intracelular, intravisceral e intratômico são também, como diz o nome, exemplos desse elemento em nosso corpo.

Podemos pensar que não se trata então de espaço, mas do ar que possivelmente o preenche. Veremos adiante porém, a diferença entre ambos, bem como as pecualiridades do ar e a forma como ele se mostra em nós. Falaremos um pouco sobre nossos movimentos e sobre a respiração, funções desse elemento, tão importantes e presentes em nosso dia-a-dia.

Aguardo vocês em breve!

Namastê!



sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Com o que estamos lidando?


A ayurveda é correta e comumente entendida por “Ciência da Vida” (do sânscrito: ayus = vida, veda = conhecimento), mas é realmente preciso mais que etimologia para aproximar-se de seu real significado. Trata-se da ciência da ‘vida viva’, a sabedoria da vida experienciada.

Inevitavelmente passa por teorias, mapeamentos, escritos, referências estáveis; mas vai também muito além disso, por considerar uma dimensão do viver que transcende o objetivável. É certo que seus ensinamentos provém de uma fonte que deu origem a diversas práticas religiosas, e que se encontra em grande parte atrelada a elas. Mas isso não quer dizer que o seja de maneira institucionalizada, pragmática e restritiva. Apenas a compreensão que se tem de ‘vida’, ‘homem’, e suas múltiplas combinações estão, em muito, próximas destas como vistas sob a ótica da religiosidade oriental.

Por se tratar do que podemos chamar, aqui no ocidente, de uma ‘medicina holística’, a Ayurveda caminha ao lado de um entendimento que abarca no homem suas diversas e inseparáveis dimensões: corpo imbricado à mente e estes às emoções, todos em comunhão. No oriente sequer faria sentido dizer que ‘corpo’ está atrelado à ‘mente’, pois pensá-los de maneira distinta para então apontar sua relação já não seria cabível. O que há é um entendimento do uno, ao invés do segregado.

Toda prática e conhecimento ayurvédico vem a partir de observações do funcionamento do corpo vivo, já que igualmente vivos corpos receberão seus tratamentos. É essa dimensão, da dinâmica peculiar de uma vida em processo, que escapa muitas vezes à medicina ocidental, que disseca o corpo morto. Corpo esse que, aparentemente, se iguala em forma àquele que está vivo, mas difere por não ter o funcionamento inteligente de um que ainda bate e se transforma. É nessa inteligência que a Ayurveda vai atuar, é com essa capacidade de mutar-se que ela conta ao medicá-lo, ao trazer para o seu berço alguém que lhe venha ao encontro.

Quando chamo a Ayurveda de transcendente então, não me refiro a misticismos ou a compreensões intuitivas e incertas, mas sim a uma possibilidade de enxergar o viver além do separatismo ao qual estamos acostumados. Ela transcende a forma usual de como vemos as coisas, nos convida a experimentar uma existência mais plena e mais completa, por agregar e aceitar em si tudo aquilo que participa de uma experiência humana, com sua enorme gama de possibilidades.

Em breve, falarei melhor de como esse entendimento se dá, de qual é a compreensão ayurvédica da natureza e de nossa forma de vida; de como doenças se instalam e se perpetuam, e qual o caminho possível e convidativo para que se passe a viver em um estado de saúde, ao invés de um de guerra declarada ao mal-estar.

Agradeço àqueles que me acompanharem neste caminho, de aprofundamento e descobertas, com intuito de que toda ciência verdadeira possa levar benefício a muitos.


Bhavatu Sabba Mangalam

Que todos os seres sejam verdadeiramente felizes