O objetivo deste blog é divulgar e expandir os ensinamentos das tradições orientais, voltados especificamente para a prática da Ayurveda e da Yoga como caminhos de desenvolvimento pessoal e mudanças integrais.

Farei dele um singelo roteiro deste mundo, e espero que cada leitor que passar por aqui possa encontrar algo que ressoe em sua experiência.

Bem-vindos, Namastê!


sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Cinco Elementos: A Água


Olá amigos!

Prosseguiremos hoje com o apreço dos cinco elementos, nos aproximando então daquele chamado ÁGUA.

Quase me dá sede só de citar essa palavra... Digo isso porque é necessário entender que os elementos na Ayurveda são muito mais uma experiência do que um objeto externo e alheio a nós. Água, portanto, é mais que H2O, mais que uma gota; e sim a relação que temos com ela, o modo como nos afeta e nos transforma.

É impossível, aliás, falar de água e não falar de transformação. Há vários níveis de transformação na Ayurveda, e certamente a água é o mais sutil deles. Veremos mais adiante como o Fogo é o que representa de forma mais conduntende esse processo, mas que, por ser mais sutil, a água não deixa de ser igualmente transformadora. Ela apenas o faz em um nível distinto, o qual explicaremos a seguir, complementando com algumas questões.

Uma delas é a fundamental capacidade que a água possui tanto de dar liga quanto de dissolver. Se sairmos do modo comum fracionário com o qual costumamos pensar as coisas, e aceitarmos um entendimento que reconheça que qualquer coisa que seja está inextricavelmente relacionada com seu oposto, poderemos compreender como a água é, concomitantemente, o que dissolve e o que unifica. Se unifico terra e água, dissolvo ao mesmo tempo suas identidades iniciais, de ‘terra’ e ‘água’, para então formar ‘lama’. Dissolvendo os alimentos ingeridos nos sucos gástricos, damos unidade a proteínas, e também a toxinas, que podem então ser encaminhadas para o processo de excreção. Quando expelimos estas pela urina, por exemplo, estamos nos dissolvendo através de uma das muitas águas do corpo.

Além da digestão, as águas são essenciais em diversas funções em nosso organismo, como na preservação das articulações e no cérebro. Na primeira, elas mantém sua umidade, permitindo a promoção de desbloqueios; e no segundo caso, funcionam como proteção aos atritos cranianos, formando também uma malha que possibilita a passagem nervosa. Esta água cerebral tem um grande papel também junto às emoções, e é conhecida na Ayurveda como “a água do contentamento”. É ela a responsável pelas sensações de bem estar e boa disposição que somos capazes de experimentar.

Acredito que esses exemplos sejam capazes de nos deslocar do pensamento lugar-comum que apenas nos informa de que somos feitos de três quartos de água; o que parece não fazer muito sentido em nossa experiência, já que costumamos nos sentir tão sólidos... Essa quantidade de água é água em movimento, em transformação, gerando vida em nosso corpo. Não somos reservatórios de água parada, mas cenários de constante movimento, que, através desse elemento, encontra sua capacidade de se unificar, comunicar e dissolver.

Mas não basta agora começar a beber os famosos dois ou três litros de água por dia. Excessos são tão maléficos quanto ausências, e há de se pensar em quem está bebendo essa água. Cada organismo funciona de uma forma peculiar, e alguns já possuem mais água por natureza, precisando então controlar sua ingestão para não recair em uma retenção de líquidos. E é preciso lembrar também que alimentos como frutas e vegetais possuem grande quantidade de água, e que, ao ingerí-los, já estamos igualmente nos hidratando e preservando todas essas importantes funções sobre as quais conversamos.


Mas e você... Como andam as suas águas?


Abraços e até a próxima!



terça-feira, 7 de setembro de 2010

Cinco Elementos: O Ar

Olá! Sejam bem-vindos novamente!

Hoje vamos tentar compreender em que o elemento ar nos justifica, e como podemos reconhecê-lo em nós e ao nosso redor.

Falamos anteriormente em como diferenciá-lo do espaço. São elementos um tanto quanto distintos, mas podem se confundir apenas pela dificuldade que encontramos inicialmente ao penetrar o universo da Ayurveda.

Para facilitar o pensamento, podemos entender por ar algo mais denso, mais ‘visível’. Os movimentos do vento, o ar que puxamos com força, os gases do corpo que desenvolvem transformações. Objetivamente, é difícil compreender tal diferença, mas podemos recorrer àquilo que experimentamos, e então lembrar as diferentes nuances que nossas experiências nos conferem à respeito do peso do ar. Ora é mais leve, ora mais pesado, ora quase imperceptível, ora estrondoso...

Os sábios ayurvédicos denominam como prana o ar vital. Aquele ar que é conscientemente inspirado, o ar realmente nutritivo. A sutileza do prana é melhor compreendida quando experiênciada do que quando explicada. Respire levemente, e notará que sua percepçao se aguça pela serenidade. A rapidez e dureza com que usualmente lidamos com o mundo nos deixa menos atentos, dá-nos olhos para ver somente o rude, o bruto, o forte e marcante. Toda a natureza suave se perde quando esse movimento predomina. Ambos estes modos de experimentar são necessários à vida, e podem apenas ser considerados restritivos quando são incapazes de alternar-se saudavelmente.

Passamos a maior parte do tempo inconscientes daquilo que está e sempre esteve bem debaixo do nosso nariz: nossa respiração!As práticas de meditação e pranayamas nos tornam mais aptos a perceber esse movimento, que está intimamente ligado às nossas emoções e estados mentais.


E o que são exatamente os pranayamas?

Prana, como falamos, significa ar vital, e yamas são caminhos. Portanto, pranayamas são exercícios respiratórios que nos ajudam a reordenar os caminhos de nossos ares vitais. Como esses elementos são sutis e estão sempre em movimento, são facilmente desequilibrados. Repetindo seus trajetos por caminhos inadequados, sentimos falta de ar, cansaço excessivo, insônia, agitação mental e etc... Os exercícios servem como instrumentos para inciar uma educação da respiração, que toma um lugar de conforto após um tempo de prática, ajudando o organismo a recuperar sua saúde.

Eles também tem a finalidade de limpar as vias aéres do acúmulo de muco, que contribui para o cansaço e letargia.

Há muitas outras funções que são regidas pelos ares, mas falaremos mais delas adiante, quando tivermos entendido o restante dos cinco elementos e conseguirmos pensar sua atuação conjunta e dirigida em nosso corpo.

Até breve, tenha uma boa semana!

domingo, 29 de agosto de 2010

A Constituição da Natureza e dos Corpos

A partir de agora podemos entender um pouco mais sob qual ótica a Ayurveda vê a natureza e seu funcionamento, começando por suas unidades mais básicas: os cinco elementos.



“Os elementos correspondem aos “reais”: terra, ar, fogo, água e espaço, mas também são abstratos. Se perguntássemos a um sábio ayurvédico o que os cinco elementos representam, ele não apontaria o vento, um tronco de madeira queimando ou um riacho. Os cinco elementos são um código de formas de inteligência compreendida pela inteligência do homem e o mundo que ele percebe por meio da mente.”

(CHOPRA, D. Saúde Perfeita, 1990)

Estes são os cinco elementos básicos universais que constituem quaisquer corpos que existam: espaço, ar, fogo, água e terra. Há uma cosmogênese que os explica, mas acredito ser aqui mais importante nos determos em suas influências em nossa experiência e na maneira como nos compõem em lugar de pensar sua origem.

As unidades elementares formam a divisão mais simples para nossa compreensão, mas se juntam também em combinações que tornam essa compreensão mais complexa em nosso modo de ser, as quais veremos assim que tivermos entendido cada um dos elementos 'separadamente' em seus propósitos.

Uma relação possível e relevante que podemos fazer é com os sentidos e seus respectivos órgãos: a cada sentido humano corresponde um elemento, e eles podem ser aumentados ou diminuidos conforme digerimos alimentos ou inclusive experiências que tem predominantemente um ou outro desses cinco. Se ficamos demasiadamente irritados, por exemplo, há predominância do elemento fogo, e nossa visão então se aguça nessa experiência devido à relação entre os dois. Examinaremos essa relação com mais cuidado quando virmos este elemento especificamente, mas, por hora, comecemos pelo mais sutil de todos, o espaço:

Ele é o primeiro dos elementos e é aquele que abarca todos os outros, dando lugar aos acontecimentos. De modo a compreender o universo integradamente, é preciso vê-lo como algo maior que a soma de suas partes, e o espaço é o entendimento capaz de nos dar essa noção: ele é invisível, impalpável e ao mesmo tempo, inegavelmente sentido por todos. Não há evento que se dê fora de um lugar, e é desse lugar primeiro onde toda experiência pode acontecer que aqui tratamos.

Ele é, igualmente, aquilo que permite que os objetos estejam separados e também o que os une, pois integra em uma mesma noção de lugar as diferentes partes que se diferenciam. Distanciados por matéria, os corpos estão juntos por espaço.

É a partir daí que temos tal elemento como responsável pelo sentido da audição, pois o som se propaga pelo espaço e se dá no ‘entre’ da relação dos corpos, sendo este o meio pelo qual podemos perceber algo auditivamente. Todo espaço intracelular, intravisceral e intratômico são também, como diz o nome, exemplos desse elemento em nosso corpo.

Podemos pensar que não se trata então de espaço, mas do ar que possivelmente o preenche. Veremos adiante porém, a diferença entre ambos, bem como as pecualiridades do ar e a forma como ele se mostra em nós. Falaremos um pouco sobre nossos movimentos e sobre a respiração, funções desse elemento, tão importantes e presentes em nosso dia-a-dia.

Aguardo vocês em breve!

Namastê!



sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Com o que estamos lidando?


A ayurveda é correta e comumente entendida por “Ciência da Vida” (do sânscrito: ayus = vida, veda = conhecimento), mas é realmente preciso mais que etimologia para aproximar-se de seu real significado. Trata-se da ciência da ‘vida viva’, a sabedoria da vida experienciada.

Inevitavelmente passa por teorias, mapeamentos, escritos, referências estáveis; mas vai também muito além disso, por considerar uma dimensão do viver que transcende o objetivável. É certo que seus ensinamentos provém de uma fonte que deu origem a diversas práticas religiosas, e que se encontra em grande parte atrelada a elas. Mas isso não quer dizer que o seja de maneira institucionalizada, pragmática e restritiva. Apenas a compreensão que se tem de ‘vida’, ‘homem’, e suas múltiplas combinações estão, em muito, próximas destas como vistas sob a ótica da religiosidade oriental.

Por se tratar do que podemos chamar, aqui no ocidente, de uma ‘medicina holística’, a Ayurveda caminha ao lado de um entendimento que abarca no homem suas diversas e inseparáveis dimensões: corpo imbricado à mente e estes às emoções, todos em comunhão. No oriente sequer faria sentido dizer que ‘corpo’ está atrelado à ‘mente’, pois pensá-los de maneira distinta para então apontar sua relação já não seria cabível. O que há é um entendimento do uno, ao invés do segregado.

Toda prática e conhecimento ayurvédico vem a partir de observações do funcionamento do corpo vivo, já que igualmente vivos corpos receberão seus tratamentos. É essa dimensão, da dinâmica peculiar de uma vida em processo, que escapa muitas vezes à medicina ocidental, que disseca o corpo morto. Corpo esse que, aparentemente, se iguala em forma àquele que está vivo, mas difere por não ter o funcionamento inteligente de um que ainda bate e se transforma. É nessa inteligência que a Ayurveda vai atuar, é com essa capacidade de mutar-se que ela conta ao medicá-lo, ao trazer para o seu berço alguém que lhe venha ao encontro.

Quando chamo a Ayurveda de transcendente então, não me refiro a misticismos ou a compreensões intuitivas e incertas, mas sim a uma possibilidade de enxergar o viver além do separatismo ao qual estamos acostumados. Ela transcende a forma usual de como vemos as coisas, nos convida a experimentar uma existência mais plena e mais completa, por agregar e aceitar em si tudo aquilo que participa de uma experiência humana, com sua enorme gama de possibilidades.

Em breve, falarei melhor de como esse entendimento se dá, de qual é a compreensão ayurvédica da natureza e de nossa forma de vida; de como doenças se instalam e se perpetuam, e qual o caminho possível e convidativo para que se passe a viver em um estado de saúde, ao invés de um de guerra declarada ao mal-estar.

Agradeço àqueles que me acompanharem neste caminho, de aprofundamento e descobertas, com intuito de que toda ciência verdadeira possa levar benefício a muitos.


Bhavatu Sabba Mangalam

Que todos os seres sejam verdadeiramente felizes